MONOGRAFIA
TEMA: «LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS
DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALORIZAÇÃO DO IDOSO.»
SUMÁRIO: 1. PREÂMBULO. 2. O TEMPO PASSA...
3. O LADO POSITIVO DAS COISAS. 4. LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE. 5. CONCLUSÃO. 6.
BIBLIOGRAFIA
Marco
Aurélio Bicalho de Abreu Chagas
«Interessar-te por novos motivos ajuda a viver
em permanente juventude. Sejamos como os rios, que renovam constantemente suas águas.
» (RAUMSOL).
1. PREÂMBULO
Antes de
tudo, o idoso é um ser humano que acumulou nos seus anos de vida um cabedal de
experiências que deve transmitir aos mais novos.
Os anos vão passando e o
cenário da vida toma outros contornos.
Surgem a
estabilidade emocional e o delineamento dos passos a serem dados no caminho do
existir.
A
maturidade acontece e fico a pensar naqueles sonhos juvenis que foram deixados
para trás e muitos deles se tornaram realidade na etapa de hoje, que um dia
pertenceram ao futuro.
A luta
pela sobrevivência cede espaço às conquistas do espírito, pois os atrativos do
material já não ocupam tanto tempo da mente.
A escala
de valores, com o tempo, vai mudando e vou aprendendo dar a verdadeira dimensão
às coisas.
O que
anteriormente tinha muito valor para mim, hoje, tem o valor que deve ter, ou
seja, não vale mais nem menos do que vale.
A minha
mente ainda se ocupa muito com os pensamentos do mundo físico, deixando pouco
espaço para os pensamentos de ordem superior.
A veta está aí, aproveitar o
tempo livre para cultivar o espírito, o que perdura, a essência do ser, a
semente que ficará, posto que é eterna.
Quem não
tem um ideal carrega a morte sobre os ombros, disse o pensador RAUMSOL.
A vida é
constante atividade, portanto o homem tem que cumprir com essa lei, mantendo-se
ativo, porque «a inércia submerge o ser na imobilidade, obrigando-o a levar às
costas, como um peso morto, seu próprio espírito».
Há que
fazer dessa vida uma verdadeira alquimia: quando as lutas que a vida ofereça
forem duras, suaviza-as. Não aumente sua dureza tornando-se pessimista ou
deixando que seu vigor decaia. Faça em todo momento, da luta, um ensinamento;
torne doce o seu sabor quando essa luta lhe seja amarga.
Insuflar
na vida a força do valor permitirá enfrentar as situações difíceis. O temor
deprime, aflige, tortura, amargura e entristece.
Tudo na
vida tem que ser feito com valor.
Estamos
falando aqui não do valor físico, mas do moral e espiritual.
O temor é
sinal negativo da existência humana e, portanto, deverá ser afastado da vida.
«Ser
valente é dar mostras de segurança pessoal. »
Quem
cultiva o valor não vive atemorizado, sugestionado pelas notícias diárias,
produto de um mundo convulsionado e cheio de perigos e permite que ajudemos
aqueles que se atemorizam.
2. O TEMPO PASSA...
Hoje
desfruto da chamada «melhor idade». Como foi minha vida até aqui? Plantei,
colhi, voltei a plantar e torno a colher. E também planto para o futuro. E os
ideais? Os sonhos? As aspirações? Os anelos? Mudam.
O
horizonte é outro. Não é o mesmo da infância e não pode ser igual ao da
juventude. Ainda bem!
Sei que plantarei e continuarei colhendo
o que plantar até o final dos tempos. Do meu tempo. Anelo que as colheitas
sejam profícuas.
Como
manter o entusiasmo e a boa disposição dos tempos da juventude? Como continuar
sonhando e tendo a vontade de viver e ser melhor? Sei que alimentando um ideal,
o ideal superior de aperfeiçoamento.
Mais que
nunca, a vida é luta e devo continuar lutando, rompendo com minhas debilidades
e limitações.
3. O LADO POSITIVO DAS COISAS
Realmente,
encarar e ver o lado positivo das coisas é estar sempre mantendo as energias
necessárias para prosseguir vivendo, pois, a vida nos foi dada para desfrutá-la
e os obstáculos e dificuldades que surgem quando se vai ao encontro de um ideal
deverão ou deveriam se constituir num grande estímulo para se avançar, avançar
e avançar sempre.
Li
certa vez que um autor disse ter lido em um escrito bem antigo, em folhas
amareladas pelo tempo, que havia um homem que saiu ao encontro de um ideal e
lhe cortaram os braços e ele prosseguiu. Cortaram-lhe as pernas e ele,
persistente, seguiu rolando em direção à meta ideal.
Encarar
as coisas com alegria e valor, que são forças que nos impelem a seguir avante
nessa luta e possuir um ideal que nos inspire, é vencer nessa viagem para a
superação, o aperfeiçoamento. Porque quem não tem um ideal carrega a morte
sobre os ombros.
E a felicidade está nas pequenas
coisas, nas pequenas conquistas, nas pequenas porções de bem, espalhadas pela
Criação.
Também fazer as coisas com gosto alivia o
peso daquilo que pode parecer desagradável.
O cultivo da gratidão, sentimento
nobre, permite que sejamos merecedores do bem recebido. O ingrato atrai para si
o revés, pois demonstra desprezo por tudo aquilo que lhe foi útil e lhe fez
bem.
Aprendi nesta vida que a atitude de me
queixar das coisas que me incomodam significa debilidade e retira forças que
preciso reunir para vencer as dificuldades e afastar os obstáculos.
Finalmente, na vida há duas grandes
oportunidades que a todo instante perdemos, uma é a de não incomodar os demais
e a outra é a de não sermos, ou não nos sentirmos incomodados pelas atitudes,
gestos e modalidades daqueles que convivem conosco.
Pode-se dizer que mudei em muito,
aquela atitude comum aos seres, de pessimismo e achar que a vida é cheia de
sofrimento e angústia, ao contrário, a vida é um maravilhoso campo
experimental, onde, se quisermos, podemos encontrar a felicidade nas pequenas
coisas que estão próximas de nós. E de cada um depende que nossos pés pisem
espinhos ou pétalas de rosas, nessa caminhada em direção ao que cada qual forja
para si como ideal.
4. LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE
A
longevidade e o tempo livre são dois fatores que, ligados ao tempo caracterizam
essa etapa da vida humana, pois ao se viver mais, o tempo se amplia e surge uma
indagação: como aproveitar melhor esse tempo?
A
participação social exige que se pense em novas propostas que contemplem a
valorização do idoso. Esse participar é ativo e não comporta mais a fase
contemplativa que se resumia em deixar que o tempo passe, mas se adiantar ao
tempo, realizando atividades criativas e úteis, através de uma valorização
crescente desse ser humano que tem uma trajetória de vida que o habilita a
enriquecer o acervo de conhecimentos acumulado.
O idoso
haverá de ser convidado a transmitir sua experiência de vida a grupos de
jovens, orientando-os em suas lutas e dificuldades para superar obstáculos.
A experiência
do ser adulto é importantíssima. Mas onde está essa experiência? O adulto a
transmite ao jovem? Como a transmite? É bom lembrar que quando um pai dá um
conselho a um filho, ele, naturalmente, já viveu tudo o que esse conselho
encerra e que, ao expressá-lo, quer evitar ao filho o que para ele foi motivo
de sofrimento ou causou-lhe danos.
Gostaria
de lembrar aqui o que li em um livro em que o autor relata o seguinte:
«...
encontrava-me, sendo criança, em uma estância e, como todas as crianças,
gostava de me afastar das casas e correr pelos campos. Um dia, saí montado em
um petiço, tinha que atravessar montes e serras. Andando um pouco, encontrei no
caminho o capataz da estância, acompanhado por alguns camponeses, que ao
ver-me, perguntou amavelmente aonde ia; ao responder que me dirigia ao rio,
disse-me:
- « Para
chegar ao rio, terá que passar por três porteiras; tenha cuidado, menino,
porque ali existe gado bravo, e quando vê gente nova é capaz de atacar». Eu já
tinha ouvido falar dessa boiada, mas por efeito, talvez, dessa célebre
reprodução mental do dedo tocando o vidro da lâmpada, decidi continuar o
caminho. As porteiras que tinha que cruzar para chegar ao rio eram dessas
antigas, cujos paus horizontais, superpostos, se introduzem nos orifícios de
dois postes verticais colocados em ambos os lados do caminho. Ao passar pela
primeira, lembrei-me da RECOMENDAÇÃO do capataz, o qual me havia dito que a
deixasse aberta ou só com o pau inferior colocado, para o caso de que a boiada
corresse atrás de mim. Quando atravessei a segunda, esqueci-me da recomendação
e afastei-me após ter fechado a porteira com todos os paus; ainda bem que ouvi,
próximo, um burro zurrar, e crendo que fosse um leão, ou algo parecido,
rapidamente voltei para tirá-los. Ao passar a terceira porteira, já próxima do
rio, também tirei os paus. Descia o vale, quando vi, de repente, a boiada
pastando tranqüila. «É a isto que chamam de gado bravo? - disse-me, ao mesmo
tempo em que decidia passar no meio deles. Não havia transcorrido um minuto,
quando um touro enorme, que me pareceu de vinte ou trinta metros cúbicos,
levantou a cabeça, olhou-me e, em seguida, começou a correr na minha direção e,
com ele, todos os demais. Então sim, vi o perigo e fincando as esporas nas
ilhargas do meu petiço, passei como um bólido pelas porteiras. Vendo que levava
vantagem, ao chegar à última detive-me para fechá-la e deter, assim, a passagem
das bestas. »
«Passado o
mau momento, instantaneamente me recordei do capataz. Emocionei-me; enchi-me de
ternura e compreendi quanto bem me havia feito sua PALAVRA; uma PALAVRA HUMANA,
UMA ADVERTÊNCIA.... Recordo que, quando lhe referi o ocorrido, me disse: - «Ah!
Jovem, você se salvou porque tirou os paus da porteira. Meu filho foi morto por
essa boiada. » Compreendi, nesse instante, quanto pode encerrar uma PALAVRA e
como penetra quando é DITA PARA FAZER O BEM; compreendi, também, que esse homem
tinha querido salvar em mim o seu próprio filho, e isto jamais pôde apagar-se
entre as tantas recordações que existem em minha vida. »
Por outro
lado, « não existem escritas em parte alguma – porque possivelmente não foi
dado a ninguém abarcar semelhante empresa – as INUMERÁVEIS EXPERIÊNCIAS pelas
quais o ser humano está exposto a passar durante sua vida. Daí que a JUVENTUDE
se ache completamente órfã de conhecimentos e carente de quem possa guiá-la com
verdadeiro acerto pelo mundo no qual penetra, evitando-lhe dar tropeço após
tropeço e livrando-a, com isso, do que costuma afetar grandemente o coração, a
mente e o espírito nessas ternas idades. Não quero significar com isto que se
deva brindar a ela a mais absoluta facilidade, aplainando-lhe totalmente o
caminho a seguir, pois isso seria tão absurdo quanto o anterior; mas sim,
facilitar-lhe em parte o percurso desse caminho, ajudando-a nos momentos
difíceis com a luz do conhecimento extraído das experiências, com o objetivo de
evitá-las. Isto seria uma grande obra, capaz de chegar a infundir muita
confiança na humanidade. »
Eis aí,
então, uma grande tarefa, um desafio, para o idoso ativo: transmitir a sua experiência de vida para o jovem carente dela.
Aprender ao ensinar isso, recordando de sua trajetória e extraindo de sua
experiência a luz do conhecimento, que iluminará o caminho do jovem.
O exemplo
dos maiores é de grande valor moral para os jovens, pois «a moral se edifica
com o bom exemplo, não com palavras. »
5. CONCLUSÃO
Não há
idade para aprender. Em todas as idades o querer aprender haverá de ser o
dínamo para se avançar. O último que deveríamos perder, se é que haveríamos de
perder algo, seria a vontade de aprender. Quem está sempre aprendendo e
querendo aprender se mantém vivo e bem-disposto, pois, nesse aprendizado se
amplia a vida e se vive bem, gerando energias que formam o valor. É como se
novas porções de vida se somassem à própria vida.
Como
viver, então, em permanente juventude? Outra proposta das tantas aqui
ventiladas. O segredo está em me interessar por novos motivos. Devo ser como os
rios que renovam constantemente suas águas. RENOVAR SEMPRE OS MOTIVOS PARA
VIVER.
Poderíamos
aqui afirmar que A VIDA SEM CONHECIMENTO É NADA E COM ELE É TUDO.
Vencer a
morte é vencer a inércia que é ausência de vida. Devemos buscar sempre a
atividade, porque vida é atividade, permanente atividade. Atividade física,
mental e espiritual.
Em verdade, idoso fica o ser físico, em
decorrência das mutações do tempo, mas o espírito pode permanecer em franca e
plena juventude se se dispõe a permanecer em constante atividade e disposto a
aprender, aprender, sempre.
O
envelhecimento físico pode limitar os sentidos da alma, mas não atinge o
espírito que vive por um ideal de aprimoramento e de superação.
Portanto,
há que cultivar esse espírito a todo instante, primeiro, fazendo uma revisão
dos conceitos que regem a nossa vida, pois o culto aos conceitos forma o
patrimônio moral dos homens. E, em seguida, o enriquecimento desse patrimônio
que haverá de permitir que a seiva juvenil continue correndo nas veias do ancião
que aspira superar suas limitações.
6.
BIBLIOGRAFIA:
GONZÁLEZ
PECOTCHE, Carlos Bernardo. Bases para sua conduta.
O Espírito, Sao Paulo, Editora Logosófica, 1ª
ed. 1978
El Señor de Sándara, Buenos Aires, 1959
Biognose, Editora Logosófica, São Paulo, 1996
Diálogos, São Paulo, Editora Logosófica, 1995
O Mecanismo da Vida Consciente,
Ed.Logosófica, 7ª ed., São Paulo
A Herança de Si Mesmo, Ed. Logosófica, 6ª ed.,
São Paulo
Deficiencias y propensiones del ser humano,
2ª ed., Buenos Aires, 1964.
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